Hoje vamos passear por um dos bairros mais chiques (e caros) de Buenos Aires: a Recoleta.
Falando um pouco de história, o bairro burguês de Buenos Aires até a segunda metade do século XIX era San Telmo, até que um surto de febre amarela fizesse com que a sua população mais rica migrasse para a Recoleta. Coincidiu com a época em que seu Prefeito, Torcuato de Alvear, iniciou uma campanha para embelezar e tornar Buenos Aires mais européia.
Desde então, a Recoleta passou a ser um dos melhores exemplos de sofisticação da cidade e um dos bairros portenhos mais agradáveis para se hospedar.
Cementerio de la Recoleta
Nosso passeio começa pela "última morada" dos seus cidadãos mais abastados (portenhos ou não).
Obra do primeiro Presidente da Argentina, Bernadino Rivadavia, em 1822, foi o primeiro cemitério público da cidade, marcando o seu limite norte. A obra foi realizada em terras confiscadas dos monges da Recoleta.
Embora fosse o local onde se enterravam os escravos livres e trabalhadores em geral, passou a ser utilizado pelas famílias mais ricas a partir de 1860.
Há opções de passeios guiados logo na entrada. Compre-os se você gostar muito de história e quiser saber os detalhes dos túmulos mais importantes da Sociedade Portenha (há passeios gratuitos às 14h30 do último domingo de cada mês).
Optamos por conhecê-lo por conta própria para conseguirmos visitar um número maior de túmulos e escolher os que achávamos mais interessantes. Porém, para fazer isso foi essencial comprar um mapinha na entrada do cemitério (AR$15 / R$4,17) e marcar nele os túmulos que gostaríamos de conhecer. São mais de 6.400 túmulos e mausoléus, dos quais mais de 70 são tidos como verdadeiros monumentos.
Até pensamos em não entrar, mas não dava para perder a oportunidade de conhecer um dos lugares mais visitados da Capital Argentina. Lá estão enterradas algumas das personalidades mais importantes da história do país. Você se surpreenderá com a beleza e a riqueza de alguns túmulos, o que torna bem difícil eleger o mais bonito. Destacamos três deles:
O primeiro é o de José C. Paz, fundador do jornal La Prensa. A imagem no alto do seu túmulo representa uma alma deixando seu corpo a caminho do céu.
O seguinte pertence à família Dorrego-Ortiz Basualdo. Observe a presença de um crucifixo e um menorá, símbolos das religiões Católica e Judaica. Eles representam a conversão da família ao Catolicismo ao chegarem na Argentina no século XVI.
O túmulo da Família Duarte é certamente o mais visitado, pois é onde está enterrada Evita Perón, a heroína de todos os argentinos e que aprendemos a admirar e respeitar durante nossa viagem. Observe a placa com um trecho do seu discurso "eu serei milhões".
É importante frisar a necessidade de manter o respeito pelos antigos e novos "moradores". Se coincidir de um velório acontecer no meio da sua visita, não se esqueça de desligar a câmera e manter o silêncio até o cortejo passar (aconteceu conosco).
Iglesia de Nossa Senhora del Pilar
Esta preciosidade foi doada aos monges da Recoleta em 1716 por um rico comerciante de Zaragoza. Por este motivo, leva o nome da santa padroeira da cidade espanhola. Foi consagrada em 1734 e é a segunda mais antiga da cidade.
Um dos maiores destaques é seu altar barroco com motivos Incas. Ele foi trazido do Peru pelo Caminho Real e possui um belíssimo frontal de prata fundida.
A Iglesia de Nossa Senhora del Pilar é uma das mais importantes amostras coloniais portenhas e uma das únicas que preservam sua originalidade.
Se você gostar também de arte e objetos sacros, visite seu claustro (entrada: AR$15/R$4,17). Nós fizemos o passeio e não nos arrependemos.
Centro Cultural Recoleta
Vizinho à Igreja de Nossa Senhora del Pilar, o Centro Cultural Recoleta ocupa desde 1980 o prédio do antigo Monastério da Recoleta (construído em 1732). É também conhecido como Centro Cultural de Buenos Aires.
Dedica-se à promoção da arte argentina contemporânea e suas galerias exibem em sua maioria exposições temporárias. Você encontrará obras surpreendentes, como esta estátua em tamanho real.
Mas algumas obras são bem "estranhas". O que dizer de um chocolate embaixo de um copo de vidro?
Mesmo que não seja do seu gosto (não é do nosso), vale à pena dar uma passadinha rápida.
Café La Biela
Este café com a cara de Paris ocupa uma das esquinas mais turísticas do bairro, desde os anos 1950. Era reduto de pilotos de corrida que se reuniam por lá para comemorar o resultado das provas. Hoje em dia é ponto de encontro de turistas e moradores endinheirados.
Há dois ambientes, um interno e outro com mesas ao ar livre. O lugar mais agradável é do lado de fora, porém se paga mais caro por isso.
Avenida Alvear
Fruto da reurbanização de 1883, é uma das mais belas avenidas da cidade e tem como um de seus ícones o Alvear Palace Hotel. O edifício de 16 andares (5 subterrâneos) foi construído em 1923 no local onde ficava a antiga Embaixada Britânica. Ironicamente, é um dos maiores símbolos da devoção francófona da cidade. O hotel abriga dois dos seus restaurantes mais renomados, o L'Orangerie e o La Bourgogne.
Entre outros belos edifícios, destacamos a Embaixada do Brasil (Palácio Pereda) ...
... e a Embaixada da França (Palácio Basualdo).
Palais de Glace
Sendo cópia do Palais de Glace parisiense, foi inaugurado nos anos de 1920 como ringue de gelo e salão de baile. Foi doado em 1935 ao Instituto de Bellas Artes e funciona desde então como centro de exposição de arte (entre 1954 e 1960 foi usado como estúdio de televisão). É conhecido também como Palacio Nacional de las Artes.
O prédio é um dos exemplos da arquitetura francesa da cidade.
Plaza Francia
A região em torno da praça mostra bem a vontade de Buenos Aires em se parecer com a capital francesa. É a principal área verde do bairro e possui no centro um monumento à liberdade doado pela própria França, em 1910.
A praça abriga nos finais de semana uma interessante feira de artesanato.
Museo Nacional de Bellas Artes
Este foi museu de Buenos Aires de que mais gostamos. Ele foi fundado em 1896 e se mudou para o edifício de uma antiga estação de tratamento de água, onde se encontra desde 1932.
Seu acervo possui mais de 12.000 obras de arte, desde arte pré-colombiana até artistas modernos. É a coleção de arte mais importante da Argentina e uma das maiores da América Latina. Possui também uma biblioteca de mais de 150.000 livros sobre o tema.
E pasmem: a entrada é grátis.
A obras estão separadas de forma bem estruturada e há guias disponíveis em vários idiomas para acompanhar os visitantes. Comece pelo setor de pintores argentinos. Eles ajudaram a contar a história do país, apesar de nem sempre da forma correta.
A pintura abaixo retrata os índios nativos com uma perversidade e violência que sabe-se hoje não ser verdade. Era conveniente fazer a população branca pensar desta forma para justificar a dizimação indígena. Você irá notar que a figura mais inocente na pintura é exatamente a do branco colonizador.
Não perca as obras de Van Gogh, El Greco, Picasso, Goya, Rodin, entre outros artistas importantes.
Floralis Genérica
A gigantesca flor de alumínio e aço foi construída pelo artista Eduardo Castelano em 2002. Fica na Plaza de las Naciones Unidas.
Suas pétalas se fecham à noite e se abrem novamente às 08h00 da manhã. Cada uma mede 20 metros de altura e pesa cerca de 18 toneladas. Fechada, a flor mede 16 metros de altura e, aberta, 32 metros. É enorme!
Biblioteca Nacional
O prédio é grandioso, mas sua arquitetura de estilo brutalista é de gosto duvidoso. Está localizada onde existia a casa dos Perón, e demorou quase 30 anos até ser inaugurada em 1992.
Seu acervo é de mais de 2 milhões de volumes, entre eles há preciosidades como a primeira edição de Don Quixote e uma Bíblia editada por Goutemberg em 1455.
As salas de leitura tem vista para o Rio de la Plata e há também um delicioso café nos seus jardins.
Além do nosso roteiro, não deixe de ler o pacote de dicas importantes para quem vai para Buenos Aires.
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