A cidade de Recife possui um teatro desta época, motivo de muito orgulho para todos os pernambucanos: o Teatro de Santa Isabel.
Além de ser um dos mais bonitos teatros do país, o TSI foi o primeiro e é até hoje o principal exemplo de arquitetura neoclássica de Pernambuco. Ele também testemunhou boa parte da vida do Recife nestes quase dois séculos de existência.
Um pouco de história
Tudo começou em 1837 quando o Governador Francisco do Rego Barros, futuro Conde da Boa Vista, idealizou a construção do Teatro de Pernambuco, logo depois chamado de Teatro de Santa Isabel em homenagem à princesa homônima.
Durante sua história, o TSI foi usado para outros fins, não somente para apresentações teatrais. Já no seu primeiro ano de funcionamento, em 1850, o teatro foi palco de animados bailes de carnaval. Para que isso fosse possível, foi colocada uma grande estrutura de madeira sobre a platéia na altura do palco. A técnica foi repetida durante a visita de D. Pedro II em 1859.
O TSI foi palco também de calorosos embates literários. Curiosamente alguns dos mais famosos ocorreram entre Castro Alves e Tobias Barreto na década de 1860 em defesa das atrizes Eugênia Câmara e Adelaide Amaral. Dizem que eles eram grandes amigos até se envolverem com as duas. Daí em diante viraram inimigos.
Em 1869 um grande incêndio interrompeu a história do TSI deixando pouca coisa de pé. A suspeita é que tenha iniciado durante um espetáculo quando as vestes da bailarina principal bateram num dos artefatos de iluminação e o óleo usado como combustível se espalhou. A tragédia foi enorme.
Em 1876 o TSI foi reinaugurado em grande estilo com a apresentação da ópera "o baile de máscaras" de Verdi. Apesar da grandiosidade no novo teatro, perderam-se no incêndio os detalhes em folha de ouro do teatro original. O dourado visto atualmente é pintura.
Os debates em torno da abolição da escravatura marcaram a década de 1880, tendo como personagem principal Joaquim Nabuco. Ele chegou a dizer que a causa da abolição foi ganha no TSI. Os discursos de Martins Júnior e Silva Jardim em favor da República também ficaram famosos.
Por volta de 1906 o TSI foi usado também como cinema, mas a revolta da classe artística fez com que as exibições durassem apenas pouco mais de oito meses. Um filme sobre a vida de Jesus Cristo costumava lotar o TSI nos dias de projeção.
Ainda no início do século XX, mais especificamente em 1916, o TSI passou a contar com luz elétrica, eliminando de uma vez o risco de incêndio provocado pelas luminárias a óleo (sabe o que é a peça da foto abaixo? É um transformador da época).
A visita guiada
Há duas formas complementares de conhecer um teatro. A primeira é assistindo a uma apresentação, seja qual for. É assim que vemos ele ganhar vida de verdade. A segunda forma é participar de uma visita guiada. Esse é o jeito de conhecer detalhes que muitas vezes não estão registrados em lugar algum, apenas na cabeça das pessoas que fizeram ou fazem parte da sua história.
Começamos a nossa visita guiada do lado de fora do teatro. Foi aí que voltamos no tempo lá para o século XIX para imaginar as tocheiras na frente do teatro enquanto as carruagens chegavam. Elas eram conhecidas por este nome porque ficavam segurando uma tocha para iluminar a entrada do teatro, já que não havia luz elétrica. Atualmente há estátuas em seu lugar.
Vale ressaltar que o TSI foi concebido para atender à classe mais abastada da população, pois havia um desejo de copiar os padrões estéticos e culturais europeus. Antes da sua construção, não havia convívio social nem tão pouco locais de divertimento na cidade.
Nosso ótimo guia, o Gustavo, nos falou que a música sempre esteve presente de forma marcante no TSI. Ele nos ajudou a observar detalhes que nunca tínhamos visto no edifício.
Prosseguimos a visita no saguão de entrada do TSI. É lá que estão do lado esquerdo o café do teatro e do lado direito a bilheteria. Observe a abertura na grade da sala da bilheteria. Era por ela que eram vendidos os ingressos antes da última reforma.
A visita prossegue dentro do teatro ainda no andar térreo, onde podem ser vistos os bustos de alguns dos seus personagens mais importantes. Há também placas que registram momentos relevantes da sua história.
Foi aqui que tivemos uma das partes mais pitorescas da visita. Nosso guia contou diversos "causos" ocorridos na história do teatro. Dentre eles, os mais intrigantes são as histórias de assombração. Pra quem não sabe, Recife é tido como uma das cidades mais assombradas do país.
Uma das aparições mais constantes é a de uma mulher em trajes de gala com a face bastante chorosa. A descrição bate com a da bailarina que se acredita ter causado o incêndio de 1869. Outra figura constante é a de uma velha senhora. Recentemente uma criança que participava de uma visita guiada a viu e se admirou com a rapidez que ela subia as escadas e entrava num setor específico. Depois se soube que ela se parecia com uma antiga frequentadora que costumava assistir aos espetáculos neste mesmo local. Ah, não dá pra esquecer do piano que toca sozinho, apesar de trancado numa caixa, a iluminação do salão nobre que é movida de lugar à noite e acende sozinha, entre outras. Você tem coragem pra passar uma noite lá? Eu nem morto! Ou melhor...pode ser que depois de morto eu apareça por lá. Uhuhuhuhuhuh!
Deixemos o sobrenatural de lado e vamos voltar à visita. Observe os camarotes nas laterais do palco. Apesar da vista não ser lá estas coisas, tradicionalmente eram frequentados pelas pessoas mais importantes. Imagina o motivo? Eles queriam mais serem vistos do que assistir aos espetáculos (o tempo passa e nada muda, não acha?). O aluguel por temporada de alguns camarotes chegava a custar fortunas. Até hoje um deles é de propriedade do Governo do Estado, outra tradição do TSI.
Outra curiosidade: as viúvas ficavam na parte da frente da platéia e saíam pela saída de serviço (mulheres sozinhas era mal vistas na época), enquanto que os homens solteiros ficavam na área do fundo. Essa época era bem complicadinha.
Continuamos a visita no lugar mais marcante do TSI: o palco. Consegue imaginar a emoção de se apresentar num teatro tão lindo?
Terminamos nossa visita no salão nobre. O local é usado especialmente para concertos de câmara e outros eventos com público de até 120 pessoas.
Outras informações
O Teatro de Santa Isabel é também a sede da Orquestra Sinfônica do Recife. Se desejar assistir a um espetáculo, alerto que precisará chegar ao teatro com umas duas horas de antecedência para conseguir um dos concorridíssimos ingressos (a bilheteria abre uma hora antes). As apresentações são mensais e gratuitas.
Localização: Praça da República, bairro de Santo Antônio
Contato: (81) 3355-3323 e 3355-3324
Programação atualizada: disponível no sítio do TSI
Capacidade atual: 570 expectadores.
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